domingo, 15 de abril de 2012

Série Viajante Solitário - Conto 04


Acordado e seguindo seu rumo, e por um momento penso se tudo não é um sonho. Porventura não será a vida das pessoas, todos nós, um grande sonho ilusório que esteja fora do controle e do qual um dia despertaremos ? Que dormir e acordar podem ser a mesma coisa ?
Paro diante de um imponente edifício, majestoso, tocando o céu. Centenas de homens tratam de negócios envolvendo milhões, comunicam-se com o mundo inteiro, presidentes, milionários, industriais. Daqui podem controlar o andamento sadio do globo. Mas... o que é o globo, este mundo ? Na porta do brilhante e gigantesco prédio um velho descobre sua cabeça tirando o chapéu semi amassado. Me aponta. Me olha, e eu tento mirar o topo do edifício.
Se soubessem eles do mais alto escalão sua insignificância em relação ao mundo, e este com o Universo... então o pobre necessitado não me mostraria o chapéu vazio.
É a infiltração do mal no sonho tornando-o um pesadelo.
A vida comum das pessoas é uma grande ilusão coletiva, pois a família feliz trabalha, vive e ama por um objetivo utópico, encobrindo  a raiz da maldade que se espalha no submundo humano, é o ódio, a preguiça, a avareza, prostituição, feitiçaria, inimizade, ciúmes, inveja e os que por causa destes praticam o roubo, assassinato, seqüestro, estupro.
Dói o coração lembrar de tudo.
A família feliz continua sorrindo pro futuro e andam na rua sem medo. O que os faz assim, será o seu objetivo tão utópico ?
O velho na calçada nação terá o mesmo objetivo do executivo rico ? E eu ?
Apenas concluo que nós, de várias formas, temos em vista a felicidade em nossas vidas, nada mais é possível nesse sonho, acordaremos em breve, não se sabe ! E da forma como dormimos a noite e acordamos no dia seguinte, assim será ao fim desse grande sonho, voltaremos a ser iguais a quando adormecemos (quando nascemos), nus.
Sento ao lado do velho, recoloco o chapéu em sua cabeça branca e o abraço carinhosamente. Pessoas apressadas perseguindo seu objetivo passam e vez ou outra surge uma moeda.
O velho sorri pra mim, seu objetivo utópico está sendo alcançado.
O meu também.

Nenhum comentário:

Postar um comentário