Viajante Solitário.
Pelos campos ando flutuando em meus próprios
pensamentos captando a vida ouvindo e refletindo o homem, o mundo. A beira da
estrada está ele e me olha. O menino franzino, semi nu, doente e também
tristonho.
Por mim passam velozes como o raio as máquinas
poderosas que trazem o progresso, algumas fortes e pesadas outras compactas,
modernas e aerodinâmicas.
E riem, riem os que nelas estão. Ajoelho. E apesar
do intenso barulho ouço o angustiante choro de seu ventre vazio. Perdoe-me...
perdoe-me, pudera fazer eu deste pão que te dou alimento para a vida inteira, e
amanhã o que será de ti.
Eu continuo. E digo : A caridade dos corações
humanos venceria fácil a maldade dos sistemas políticos, mas... onde está ela ?
Em meu caminho há homens e mulheres, risos e
lágrimas, bênçãos e maldições. E medito perguntando-me como alguém poderia
conter as paixões avassaladoras que por si só não distinguem o bem do mal. Como
homem senti a força destrutiva da sensualidade que, como humano, combati e venci com o poder do amor.
Sigo andarilho, sentindo sob meus pés o mundo, a
terra, donde sugo energias pelas raízes de minha vida. Quanto forte sou em
momentos de divina sabedoria de forma que fosse possível enxergar o infinito
dentro de mim e contar todas as minhas células, chegando com isso à conclusão
de ser o menor, uma insignificante poeira no infindável universo.
Mas penso, e vejo. E ouço.
O bebê tomado dos seios da mãe e entregue aos
demônios do inferno, que submetem os pais à tortura extorquindo deles o ouro
que não tem. É vítima.
Criador... tenho de engolir meu próprio sangue que
ferve de injustiça.
Penso. Meu filho vem aí, vem pelos ares. Não foi
concebido, então ainda é tempo. Compensará
fazê-lo sofrer ao contaminar-se na podridão? Não me amaldiçoará
eternamente tê-lo gerado ?
Quantos não escravizam almas com o pó branco da
morte, comprando para si vítimas inocentes em troca de falsas ilusões.
Coitados...coitados ? Pudessem ter tido a chance de optar entregando o corpo à
servidão, ao invés da alma ,seria melhor certamente.
Os aliciadores estão à toda parte, uma mordida no
doce que contém o ácido e é o fim. Atentem.
O viajante segue apático.
Hoje a tristeza deixou-me inseguro.
A relva macia acolheu-me cansado e a copa da árvore
cobriu-me do orvalho, os animais se calaram e até os ventos se desviaram para
que dormisse na paz.
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