terça-feira, 15 de maio de 2012

Serie Viajante Solitário - Conto 10


Novas estrelas surgem no céu em círculos luminosos e coloridos, trovões ribombeiam. Marcam uma passagem especial. Reveillon. E a data me lembra um neon cor de rosa... e uma noite quente.
Viajei tanto! Cidade grande em data especial de muita festa e luz. Alegria. As torres iluminadas da avenida trazem-me ela novamente ao meu lado, vinda do nada, rodopiante e transbordante de felicidade e paixão em seu vestido azul. Seus olhos brilham luz e bondade. Que linda !
 ... Gone With The Wind!
Tenho de sentar para conter o riso, o trocadilho revelou-me que ainda tenho humor... e paixão será ainda ?
Onde estará ela agora ?
Não me admiraria o destino colocá-la por acaso na próxima esquina, agora que voltei a essa cidade. Cidade onde deixei tudo, bens, imóveis, família, amores, projetos, amigos; talvez nem me reconhecessem. Deus terá compaixão de mim. Sabem bem todos porque saí pelo mundo como solitário que no fundo sempre fui.
Podem tirar tudo de um homem, menos a fé.
A fé me fez viajar, viajando adquiri sabedoria, e com ela valorizo de verdade a vida, minha e dos outros, e mostrarei como viver é bom.
Estaciono diante de uma imensa vitrine de uma grande loja. Vejo meu rosto e meu corpo como estão destruídos e castigados pelo mundo e pela incompreensão humana que s¢ enxerga o exterior do homem.
Focalizo meus olhos, eles quase não piscam estão inchados e vermelhos, talvez uma pequena infecção devido o mau trato. Mesmo assim insistem em dizer coisas que não quero ouvir.
Desvio meu olhar para as pessoas e carros que passam atrás de mim, a maioria com completa insignificância por aquele homem mal encarado, medo ou repugnância talvez. A radiopatrulha parou e olhou desconfiada, indo embora também. Luzes piscam sem parar, risos e musica soam no ar.
Então um dos televisores diante de meus olhos mostra algo. Um rosto familiar.
Uma moça assassinada cruelmente a facadas por um que considerava amigo.   Traição, morte, dor. Eu a conheço... não !

Se parece tanto com ela...!
Doeu de tal forma que não pude resistir e fui até a rua das pombas no bairro do Senhor, onde toda a minha história ocorreu,  as pedras contam-na a todos que passam e quem não ouve não tem sensibilidade. Lá eu sorrateiro vi muitos queridos, amigos, irmãos e a mulher que amo. Festejavam, confraternizavam.
Por fora pareciam alegres.
Olhei por muito tempo até que percebi a verdade e comecei a caminhar na direção de todos eles. No meio fio, onde deve andar um renegado, caminhei vagarosamente. Alguns me observavam friamente, outros nem me viram.
Ainda não estou pronto.
Ela olhou-me triste em presenciar a miséria humana num dia de festa, todavia não me reconheceu até que desaparecesse de vista.
Como estava linda, bem mais de quando a deixei, de branco e uma flor nos cabelos. A cena me emocionou, deu-me uma vontade tão grande de voltar... por que não, vamos acabar com isso então !!
Não.
Muitos me esperam, pessoas que não tem nada a ver com meu passado e necessitam de moral e decência, os grandes remédios.
Preciso conhecer todo o corpo, até as menores partes.
Para só então semear.

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