terça-feira, 29 de maio de 2012

Serie Viajante Solitário - Conto 13


Abro os olhos muito vagarosamente. Estou encolhido em posição fetal, e um certo torpor na mente, mas está tão frio...
Viajante Solitário, acorda !
Meus lábios estão rachados e feridos e o orvalho da noite neles se condensou, quase não sinto minha língua absorve-los revelando tão somente a fome e sede que sinto. Como adoraria ser um urso hibernando numa aconchegante toca em meio ao sossego da natureza, e só acordar na primavera, pois dói muito me locomover por aí, todavia ‚ preciso.
Deus manda-me anjos, almas bondosas que me alimentam e ainda assim divido com os loucos.
Ou serão sãos ?
Loucura ‚ o que faz uma criatura que encontro em meu caminho, que de adulto tem apenas a estatura, por trás da arrogância violenta chora uma criança faminta. De amor.
Vem contra mim, grita, nem sei o que diz.
Lembro palavras que parecem saídas do fundo do meu coração dizendo que dos tais ‚ o reino dos céus, uma linda frase ! Entretanto não se pode esquecer que o mesmo homem também disse: "Deixai vir a mim os pequeninos..!" Culpados são todos os que não dão a essas crianças a oportunidade de ir até Ele, antes as condenam, matam. Outras surgem e se revoltam. Ë o ciclo tão combatido por Gandhi, que violência gera violência não importando de onde tenha surgido primeiro. Homens e mulheres desse país tem de se unir numa revolução moral e pacífica para que a fome cesse, a sede não encontre morada e ninguém durma ao relento, mesmo que isto custe mudar todos os conceitos de sociedade "aceitos" como normais no mundo malicioso, perdulário e sagaz.
Observei o jovem que a pouco me insultava puxar a bolsa de uma senhora e ser contido por um transeunte que o derrubou. Ambos se olharam, via-se que tinham medo um do outro, e então seguiram caminhos opostos. Fui procura-lo porque vi onde se escondeu. Ele me olhou, surpreso.
- Saiba – eu disse - Eu não sou nada nesse mundo, mas ninguém nele ‚ melhor do que eu. Por isso digo que você erra em lutar com a vida, pois ela sempre vencer . Para vencer seja digno. Com a luz da dignidade você nunca tropeçar .
O vento me impele para longe, cruzando viadutos ou seguindo por extensas avenidas, indo adiante a minha viagem. Preciso sair dessa cidade que transpira desigualdade, luz da revolta, mãe da violência, precursora da morte. Esta a medalha do mal. Ouço Rod Stewart em algum rádio de caminhão na estrada, sinto um lampejo de alegria e felicidade crescendo em mim e tomando conta de meu corpo de tal forma que dei pulos, sorri, gargalhei e tudo a minha volta passou a ser colorido, pessoas sorriam e pássaros me acompanhavam na canção que surgiu em meus lábios involuntariamente. E para aqueles que imaginavam que a vida de um viajante solitário fosse triste e dolorida, aí vai um recado legal: Não é não, tá .

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