Na foto, um palhaço dança no centro de Londres mais
precisamente em Covent Garden, ele se parece tanto comigo... sorriso estampado
na face e olhar tristonho. O que acontecerá conosco, palhaços sem picadeiro,
que temos sempre tendência a chorar ? Doses de lágrimas e tristeza devem ser
necessárias ao corpo. É apenas um jornal velho.
Viajante, viajante !
Chão quente. Areia fina, salgada e escaldante, mas
deliciosa de empurrar com os pés. Quantas centenas de milhões de partículas não
existirão aqui, como o número de homens que já viveram na face dessa terra
desde a criação até hoje. Homens que vieram do pó e a ele retornaram. Nessas
partículas que faço voarem com o vento quando ando, haverão homens ?
Possivelmente nessas areias séculos atrás alguém foi sepultado tornando-se pó.
Permita-me andar sobre ti, amigo.
Homens vieram e foram embora.
Também vim, mas quando irei ?! Terei cumprido minha
missão ? Certamente, pois todos nós cumprimos seja para o bem ou para o mal.
Não haveria perdão sem alguém a ser perdoado.
E eu, aguardo o dia de cumprir a que vim. Um sábio
disse que tudo tem o seu tempo determinado debaixo do céu: "Há tempo de
nascer, e tempo de morrer. Tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se
plantou. Tempo de matar, e tempo de curar. Tempo de derrubar e tempo de
edificar.
Tempo de chorar, e tempo de rir. Tempo de prantear,
e tempo de saltar. Tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras. Tempo de
abraçar e tempo de afastar-se de abraçar.
Tempo de buscar, e tempo de perder. Tempo de
guardar, e tempo de jogar fora. Tempo de rasgar, e tempo de coser. Tempo de
estar calado, e tempo de falar. Tempo de amar, e tempo de aborrecer. Tempo de
guerra e tempo de paz."
Os dias se manifestam silenciosos com o raiar do sol
sem que percebamos.
A areia começa a esfriar e a umedecer.
Meus pés a cada passo afundam com mais facilidade
nela.
Estará ela me tragando faminta, como um portal para
que o inferno me devore indefeso ? Forças querem me impedir, arremessam-se
contra mim contendo minha caminhada, que se torna cada vez mais difícil
exigindo mais e mais força.
Certamente fui envenenado, pois o equilíbrio está me
faltando, o chão não é fixo e um aperto no peito... Batem-me na cara, mãos
frias e percebo o corpo todo frio. Não consigo mais andar. Começo a voar, subo
ao alto e retorno ao chão.
O ar, preciso dele.
O guardião do Hades me questiona:
- Aonde pensa que vai ?
Eu acordo. Não é
guardião nenhum, é o salva-vidas em um bote, e eu estou no mar com água
até o pescoço.
- Acalme-se homem. - digo - Está tudo bem.
E como exímio nadador que sou exercito-me fazendo
companhia aos peixes, conjugando-me com a natureza. Livrei-me de ti Netuno e de
tuas sereias, perdeste de mim hoje.
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